Propina na cruz
"Parem de fazer da casa do meu Pai um mercado", disse Jesus aos cambistas, derrubando mesas e expulsando-os do Templo com um chicote. O Evangelho deste domingo de Quaresma nos deixa espantados: o Jesus calmo e amoroso vira um Jesus agitado e furioso. Mas o Salvador tinha toda a
razão, colocaram propina onde "tudo era de graça" (Isaías 55.1). Fizeram um pedágio no caminho do céu onde a placa dizia: "Pela sua graça e sem exigir nada, Deus aceita todos por meio de Cristo Jesus" (Romanos 3.24).
Mercadejar o produto da cruz sempre foi a maior de todas as falcatruas nesta terra de gente gananciosa. As propinas na Petrobrás e toda a corrupção no comércio, aqui e no mundo afora, é uma perversidade que traz pobreza, fome, miséria, assassinatos, guerras – prejuízos físicos e materiais. Mas o comércio do céu é uma desgraça do inferno que rouba das pessoas a graça da vida eterna.
Diz a Bíblia que o dinheiro é a fonte de todos os males. Se dinheiro é sobrevivência, ele também é poder, supremacia, ostentação. Com ele podemos mandar, subornar, dominar. Com ele “podemos” até comprar o céu. Não foi por nada o aviso de Jesus, que é mais difícil um rico entrar no céu do que um camelo passar pelo buraco de uma agulha. Jesus não se referia ao real, ao dólar, ao euro. Ele falava do deus da ganância, da arrogância, do poder. Do jovem rico com sua prepotente pergunta: “o que devo fazer para conseguir da vida eterna?” (Marcos 10.17). A cara de pau do rapaz, de querer molhar a mão de Deus com suas virtudes e dinheiro, tinha se tornado costume no próprio Templo, por isto a indignação do Salvador: “Vocês transformaram a casa de Deus em esconderijo de ladrões”.
Penso que a nossa indignação com os cambistas de Brasília e com todos os roubos que assolam este país lembra oportunamente a revolta de Jesus no Templo. Mas, se Jesus nos fizesse uma visitinha de surpresa, antes de ir à Brasília, entraria em nossas igrejas para ver se as bênçãos da cruz estão livres de propina.
Marcos Schmidt
Pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Novo Hamburgo, 7 de março de 2015