Decimo sexto Domingo Após Pentecostes – 16-09-2012
Sl 116.1-9; Is 50. 4-10; Tg 3. 1-12; Mc 9.14-29
Introdução
Em provérbios 18.21 se lê: “O que você diz pode salvar ou destruir uma vida; portanto, use bem as suas palavras...” O poder da língua pode ser usado tanto para o bem como para o mal. Talvez, por ser tão potente, Deus prendeu a língua atrás de duas fileiras de dentes e dentro de uma caverna fechada.
Em meu oficio pastoral eu tenho a responsabilidade de dizer palavras que salvam, que transformam, que dão ânimo e edificam vidas. Cada cristão batizado é chamado de nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus e, é chamado ao sacerdócio de todos os crentes. Todos nós temos a responsabilidade de dizer palavras que salvam, que transformam, que dão ânimo e edificam vidas.
Fato
Mas nem sempre é isso que observamos. Nem sempre é assim que agimos. Com nossas palavras magoamos, difamamos, ferimos, e muitas vezes destruímos amizades, casamentos, etc. Isso porque “a língua é um fogo,” (v.) “é um mundo de maldade,” (v.6) “é cheia de veneno mortal” (v.8), está dizendo o Apóstolo Tiago.
E antes que a nossa língua queira nos defender ouça o que Jesus nos fala no evangelho de Mateus: ... é do coração que vêm os maus pensamentos, os crimes de morte, os adultérios, as imoralidades sexuais, os roubos, as mentiras e as calúnias (Mt 15.19). Ou seja, a nossa língua esta a serviço de nosso coração. “A boca fala do que o coração está cheio”. (Mt 12.34).
A língua é um músculo com sua origem no coração. Ela lança palavras que podem ser boas ou más, construtivas ou destrutivas. A língua é o dreno do coração! Serve como escape daquilo que está borbulhando no coração.
Desenvolvimento
A proposta de Tiago é que sejamos mais cuidadosos com o poder incrível da língua, e deixemos que Jesus peneire nossas palavras e filtre aquilo que falamos.
I – Poder para direcionar vidas (V.1)
No primeiro versículo Tiago destaca o enorme poder de direcionar vidas que a língua tem. Por isso ele começa com uma advertência: “Meus irmãos, somente poucos de vocês deveriam se tornar mestres na igreja, pois vocês sabem que nós, os que ensinamos, seremos julgados com mais rigor do que os outros.” Tiago não quis desestimular as pessoas de falarem, de ensinarem na igreja. A preocupação do Apóstolo se justifica pelo seguinte: A Igreja primitiva lidava com a valorização e poder dados a quem ensinava e direcionava os novos grupos de crentes que se formavam. De certa forma as pessoas eram atraídas a assumirem uma posição de mestre na igreja pelo poder e status que isso lhes daria. Tiago lembra os seus leitores que o ministério precisa ser encarado com seriedade. Aquele que se compromete a direcionar as outras pessoas na fé tem maior responsabilidade porque influencia as pessoas pelo que fala. Se todos os crentes precisam ter “domínio” sobre a sua língua, que diremos então dos “líderes da Igreja?” Certamente, a atenção precisa ser redobrada! Aqui entra aquele princípio ensinado por Jesus: “àquele a quem muito foi dado, muito lhe será exigido; e àquele a quem muito se confia, muito mais lhe pedirão.” (Lc 12.48)
II – Uma verdade inquestionável (V.2)
“Todos nós sempre cometemos erros. Quem não comete nenhum erro no que diz é uma pessoa madura, capaz de controlar todo o seu corpo.”
A afirmação de Tiago sobre os nossos erros é aprovada por toda a Escritura Sagrada. Apesar de sermos novas criaturas e de não vivermos mais na escuridão do pecado, ainda estamos nesse mundo e cometemos pecados como afirma 1 Jo 1. 8: “Se dizemos que não temos pecados, estamos nos enganando, e não há verdade em nós.” Mas agora Tiago estava focalizando um pecado que parecia preocupa-lo bastante: “A língua solta”. Tiago de maneira alguma fala de perfeição absoluta, mas afirma que apesar de viver num contexto pecaminoso como o é o mundo, aquele que “controlar o uso de sua língua”, esse poderá ser considerado alguém maduro e provavelmente terá domínio sobre todos os outros “impulsos de sua carne”.
III – Dois exemplos interessantes (V.3 – 5a)
“Até na boca dos cavalos colocamos um freio para que nos obedeçam e assim fazemos com que vão aonde queremos. Pensem no navio: grande como é, empurrado por ventos fortes, ele é guiado por um pequeno leme e vai aonde o piloto quer. É isto o que acontece com a língua: mesmo pequena, ela se gaba de grandes coisas.”
A tese de Tiago é a seguinte: “Controle a sua língua e você será capaz de controlar todo o seu ser”. O cavalo, animal tão grande pode ser controlado e dirigido pelo “freio” que é colocado em sua boca e dessa forma todo o seu corpo obedece ao comando do seu cavaleiro. O navio, apesar de toda a sua “imponência”, pode ser dirigido por um pequeno “leme” que o conduz ao destino certo. Dessa forma, Tiago destaca mais uma vez a “importância” do uso da língua no sentido de dar “rumo correto ou incorreto” as nossas atitudes em nosso dia-a-dia.
IV – Um quadro assustador (V. 5ª-6)
“Vejam como uma grande floresta pode ser incendiada por uma pequena chama! A língua é um fogo. Ela é um mundo de maldade, ocupa o seu lugar no nosso corpo e espalha o mal em todo o nosso ser. Com o fogo que vem do próprio inferno, ela põe toda a nossa vida em chamas.”
Em algumas épocas do ano é comum encontrar ao longo das rodovias incêndios quase todos os dias. Isso devido ao descuido de alguns, que sem querer ou não jogam seu cigarro pela janela. Uma pequena faísca acaba destruindo hectares de floresta. Assim como o fogo, Tiago está dizendo que a língua quando mal usada tem um poder devastador. Uma pequena palavra mal colocada, na hora errada, pode destruir uma vida. Uma palavra de crítica destrutiva; uma fofoca; uma colocação verídica mas cruel, sem tato, pode desmontar uma pessoa, uma família, uma igreja.
V – Já ouviu falar em língua venenosa? (V.7 e 8)
“O ser humano é capaz de dominar todas as criaturas e tem dominado os animais selvagens, os pássaros, os animais que se arrastam pelo chão e os peixes. Mas ninguém ainda foi capaz de dominar a língua. Ela é má, cheia de veneno mortal, e ninguém a pode controlar.”
Mais um exemplo prático. Não é surpresa para nós, o fato de que muitos homens conseguem “domar” animais, desde os mais pequeninos até os mais ferozes. Tiago usa esse exemplo, para dizer que parece ser mais fácil “dominar” um animal selvagem do que a língua humana. Viver com a língua é como andar com uma cascavel dentro da boca. Pode até parecer que está tudo sob controle, mas na hora em que você menos espera, ela dá o bote. (...) A natureza da língua é venenosa. Somente uma atuação “sobrenatural” capacitará o ser humano a “dominar” o uso da sua língua. Por causa do pecado, a nossa tendência natural é para o mal e não para o bem. É impossível domar a língua se Jesus não domar o coração. Eu preciso esvaziar o meu coração de mim mesmo, do meu orgulho, do meu egoísmo, da minha razão e pedir que Jesus o encha de perdão, com o seu amor, com uma vida verdadeiramente cristã. Jesus pode domar a língua porque Ele transforma o coração. Quando Jesus transforma o coração, mudanças têm de acontecer na língua.
VI – A indecisão é condenada (V.9-12)
“Usamos a língua tanto para agradecer ao Senhor e Pai como para amaldiçoar as pessoas, que foram criadas parecidas com Deus. Da mesma boca saem palavras tanto de agradecimento como de maldição. Meus irmãos, isso não deve ser assim. Por acaso pode a mesma fonte jorrar água doce e água amarga? Meus irmãos, por acaso pode uma figueira dar azeitonas ou um pé de uva dar figos? Assim, também, uma fonte de água salgada não pode dar água doce.”
Ao encerrar sua argumentação Tiago condena de forma “veemente” uma postura dividida, que provavelmente fosse a postura vivida por muitos participantes da Igreja de Jesus naquela época. A conclusão a que o apóstolo deseja chegar sem dúvida é a de que o cristão precisa buscar fazer de sua língua, um instrumento apenas de benção e não de maldição.
Em provérbios 16. 24 se lê: “As palavras bondosas são como o mel: doces para o paladar e boas para a saúde.”
Em primeiro Pedro 3.10 se lê: “Quem quiser gozar a vida e ter dias felizes não fale coisas más.”
Conclusão
Somos pecadores por natureza, e a tendência natural é de fofocar, resmungar, criticar, xingar, blasfemar. Mas foi por isso que Jesus veio para este mundo-- para resgatar a língua do homem. Para isso, precisava fazer um transplante--não da nossa língua, mas do nosso coração, pois a língua só fala do que o coração está cheio. A morte e a ressurreição de Jesus tiveram como alvo transformar o coração daqueles que depositam sua confiança (fé) nele (e só nele) para a vida eterna. O resultado deve ser uma transformação de vida, a começar com a raiz (o coração) até o fruto (a língua)!